Como que a desmitificar a imagem do artista erudito, O conselheiro come traz também relatos do dia a dia do escritor. Com a mesma habilidade em combinar leveza e erudição, crítica e humor, e mantendo sempre sua qualidade literária característica, João Ubaldo Ribeiro deixa registradas aqui impressões de amanheceres vistos de seu terraço, caminhadas pelo calçadão da praia do Leblon em busca de uma vida saudável, andanças pelas ruas do bairro, aventuras e desventuras com computadores e conversas bem-humoradas nos botecos sobre as agruras da meia-idade. Esta edição traz textos do cineasta Cacá Diegues e do professor e poeta Cláudio Neves. Dizem que, procurado para dar um parecer ou realizar um trabalho intelectual qualquer, Ruy Barbosa, como acontece com muitos intelectuais, não costumava puxar o assunto do pagamento. E contam que, depois de ver o marido explorado com frequência, a mulher dele chamava o visitante para uma conversinha, na saída. Perguntava se tinham acertado alguma remuneração e, como a resposta era quase sempre negativa, ela, delicadamente, pedia ao visitante que voltasse e combinasse um pagamento. O conselheiro come... explicava ela. O conselheiro come reúne 43 crônicas publicadas na imprensa durante a década de 1990. Nelas, João Ubaldo Ribeiro escreve sobre o estranho contraste entre o que se imagina que seja o cotidiano do escritor a vida de artista e a realidade do seu dia a dia. Com humor apurado, comenta as implicações dessa representação fantasiosa que leitores, jornalistas e o público em geral têm do escritor. Diverte-nos com os mitos que cercam a condição de imortalidade que ele pôde comprovar desde que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras , com casos de assédios de fãs peculiares que insistem em invadir sua privacidade, os recados em sua secretária eletrônica, os pedidos de avaliação de originais como a hilariante história do autor do poema em prosa Retalhos do mim enquanto eu e os intermináveis depoimentos solicitados pela imprensa. Impossível não se divertir lendo seus arrebatamentos e frustrações com o mundo recém-informatizado do final do século passado e também com as demais tecnologias disponíveis e que mudavam os hábitos e costumes dos brasileiros. Por fim, resgata-se neste volume a antológica Carta ao presidente , registro de um cidadão indignado com os (des)caminhos políticos e econômicos do Brasil e exemplo da capacidade ímpar de João Ubaldo de trazer para o grande público temas fundamentais de nosso país. (Editora Nova Fronteira)